sexta-feira, 11 de maio de 2012


“4:57. Provavelmente já era minha terceira garrafa de whisky e o sono parecia não vir. Ficava encarando o teto, sentindo a brisa gelada que vinha da janela do meu apartamento. De alguma maneira aquela manhã cinzenta me lembrava você, e tudo o que eu mais queria fazer era ligar para você e foram necessário mais de dois litros de álcool para isso. Admito, demorei para achar seu número em meu celular, minha visão estava turva e não conseguia raciocinar corretamente. Meu estômago parecia se contorcer cada vez mais à media que ouvia o som da chamada.
- “Alô?”, você disse com a voz num tom cansado e um pouco rouco.
- “Você têm alguma ideia de que horas são?”. Eu não sabia o que responder, tudo o que me venho a cabeça foi uma única pergunta:
- “Por que ele?”. Passaram-se dois minutos e aquele teu silêncio me atormentava.
- “Que tipo de pergunta é essa? E por que você me ligou esse horário? Aposto que andou bebendo de novo… odeio quando faz isso.” Não conseguia processar o que ela falava, só queria saber a resposta daquela maldita pergunta.
- “Só me diz, por favor, por que ele?”. Nunca fui tão masoquista quanto naquele momento, senti minhas mãos frias e o gosto amargo da bebida impregnado em minha boca o que só fazia piorar a situação.
- “Por que ele? Primeiro, ele não me liga às 5 da manhã bêbado perguntando sobre coisas desconfortáveis. Ele também não chega atrasado quando marcamos de nos encontrar, ele segura minha mão quando assistimos filmes, ele não reclama das minhas manias, não desconta fracassos, perdas ou estresses em cima de mim. Ele me faz cafuné quando sentamos no sofá, me liga só para ouvir minha voz e eu gosto do jeito que ele olha para mim e logo depois sorri. Gosto dele porque ele é o oposto de você. Era isso que você queria ouvir?”
Foi como se o chão não mais existisse e aquelas palavras tivessem me sufocado de uma maneira inexplicavelmente desesperadora. Ele é o oposto de você. Eu fui a pior coisa que já aconteceu na vida dela e tudo o que consegui pensar foi “desculpa”, mas eu sabia que aquilo não mudaria em nada.
- “Ainda tá aí?”, tive vontade de falar que naquele momento eu estava morto. Havia me entorpecido por completo. Não sentia mais o gosto da bebida, a brisa vinda da janela, nada. Fiquei alguns minutos em silêncio e observei o sol nascendo, clareando aquela manhã cinzenta. - - “O sol já nasceu… significa que você não precisa mais se preocupar com as noites de chuva, assim como eu, elas não mais existiram.”
— Pedro Cabral

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